Triste, seca, desolada
Antes fértil, agora abandonada
Caminhei através das cinzas
Árvores nuas, acastanhadas
Cabisbaixo, cheguei ao cume
Torpe destruição feita pelo lume
Sentei-me numa pedra gasta e suja
Olhei o vazio da encosta
No céu uma nuvem negra
Pairando sobre a devastação
Uma ave poisa num pau queimado
Olha para mim, parece admirado
Outra ave igual esvoaça junto dessa
São testemunhas da solidão
São testemunhas da solidão
Parecem esperar a Primavera
Desejam fazer ali o seu ninho
Mas onde, em que raminho
Mas onde, em que raminho
Nada vem a ser o que era
Levantei-me, devagarinho
Comecei a descer a encosta
Pedi que as cinzas partissem
Que outras árvores voltassem a nascer
Que novas vidas ali consigam viver
Namorar, procriar, sobreviver
Olhei à minha volta
Na vastidão das cinzas, pensei
Não, não há volta
E dentro da minha revolta
Chorei
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